Para os meus alunos do 9° ano - ESCOLA DARWIN de Felixlândia/MG
CAPITÃES DA AREIA - Jorge Amado
O
romance, focaliza o tema dos menores abandonados, e retrata o cotidiano de um
grupo de meninos de rua; procura mostrar não apenas os assaltos e as atitudes
violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os pensamentos
ingênuos, comuns a qualquer criança.
Resumo
No início da obra há uma série
de reportagens fictícias que explicam a existência de um grupo de menores
abandonados e marginalizados que aterrorizam a cidade de Salvador e é conhecido
por Capitães da Areia. Após esta introdução, inicia-se a narrativa que gira em
torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém,
apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de
cada integrante do grupo de forma a montar um quebra-cabeça maior.
O chefe do grupo Capitães da Areia é
um jovem chamado Pedro Bala, um menino loiro e filho de um grevista morto no
cais. Tinha ido parar na rua por volta dos cinco anos de idade e desde jovem já
se mostrava corajoso e o mais capacitado a se tornar o líder das crianças. O
grupo ocupava um trapiche abandonado na praia e era formado por mais de
cinquenta crianças, sendo que algumas vão sendo apresentadas aos poucos durante
a narrativa.
Uma delas era o Professor, que
sabia ler e passava as noites lendo livros à luz de vela. Algumas vezes ele lia
as histórias para os outros do grupo ou então criava as suas próprias
narrativas a partir do que lera. Outra personagem que compõe o grupo é Gato,
conhecido assim por ser tido como um dos mais bonitos ali. Quando entrou no
grupo um dos meninos tentou se relacionar com ele, mas Gato não quis. Sendo
muito vaidoso, tentava andar arrumado na medida do possível e de acordo com sua
realidade de menino de rua. Gato se apaixona por uma prostituta chamada Dalva,
que irá ter um romance com o jovem após ser abandonada por seu amante.
Outra personagem que merece destaque
é Sem Pernas, um menino que uma vez fora pego pela polícia e por isso passou a
ser um jovem amargo e que odiava a tudo. Por ser manco, às vezes era usado nos
assaltos a casas: ele batia nas portas das casas dizendo que era um órfão
aleijado e pedia ajuda. Ganhando confiança dos moradores, ele descobria o que
tinha de valor na casa e depois relatava aos Capitães da Areia.
Por fim, outras personagens são:
Volta Seca, que se dizia afilhado de Lampião e sonhava integrar o bando desse;
Pirulito, um menino de forte convicção religiosa e que irá abandonar o roubo;
Boa Vida, jovem esperto e que se contenta com pouco; e o negro João Grande, que
tinha o respeito dos demais do grupo por sua coragem e tamanho. Ao lado dessas
personagens centrais que formam o grupo, encontra-se ainda o Padre José Pedro,
que era amigo dos meninos e procurava cuidar deles da forma que considerava
mais correta, e a mãe-de-santo D. Aninha.
Em certo momento da narrativa, a
varíola passa a assustar os moradores da cidade. Um dos meninos do grupo
contrai a doença e é internado. Nessa altura, surge Dora e Zé Fuinha, cuja mãe
também morreu por causa da varíola, e eles passam a integrar o bando. No início
alguns jovens tentaram se relacionar com Dora, mas são impedidos por Pedro
Bala, Professor e João Grande. Porém, Dora e Pedro Bala passam a ter certo
envolvimento amoroso.
Certo dia alguns dos meninos foram
pegos em um assalto, mas foram protegidos por Pedro Bala e somente ele e Dora
foram levados presos. Ela foi levada para um orfanato, enquanto Pedro Bala foi
torturado pela polícia e mantido preso em uma solitária por oito dias. Algum
tempo depois, os meninos conseguem ajudar Pedro a se livrar do reformatório e
partem para libertar Dora também. Porém, encontram-na muito doente e ela passa
apenas mais alguns dias com os meninos antes de morrer.
Após a morte de Dora o grupo
vai sofrendo algumas alterações. Pirulito parte com o Padre José Pedro para
trabalhar com ele na igreja, Sem Pernas acaba morrendo em uma fuga da polícia e
Gato vai para Ilhéus com Dalva, de quem é cafetão. Já Professor conseguiu
entrar em contato com um homem que lhe oferecera ajuda e tornou-se pintor no Rio
de Janeiro retratando as crianças baianas. Por fim, Volta Seca conseguiu se
tornar um cangaceiro de seu “padrinho” Lampião. Após cometer muitas mortes e
crimes, a polícia prende Volta Seca e ele é condenado.
Cada vez mais fascinado com as
histórias de seu pai sindicalista que morrera em uma greve, Pedro Bala passa a
se envolver em greves e lutas a favor do povo. Assim, movido por ideais
comunistas e revolucionários, Pedro Bala passa o comando do bando para outro
menino e parte para se tornar um militante proletário.
Narrador
O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente (que sabe
tudo o que ocorre). Essa característica narrativa possibilita que seja cumprida
uma tarefa facilmente notada pelo leitor: mostrar o outro lado dos Capitães da
Areia. O narrador, ao penetrar na mente dos garotos, apresenta não apenas as
atitudes que a vida bestializada os obriga a tomar, mas também as aspirações,
os pensamentos ingênuos e puros, comuns a qualquer criança. O narrador não se
esforça por ser imparcial; participa com seus comentários, muitas vezes sutis,
mas sempre favoráveis aos Capitães da Areia.
Personagens
A obra não possui um personagem principal. Para indicar um protagonista, o mais
apropriado seria apontar o conjunto do bando, ou seja, os Capitães da Areia
como grupo. Isso porque as ações não giram em torno de um ou de outro
personagem, mas ao redor de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais
importante para o enredo do que o Sem-Pernas ou o Gato. Pode-se dizer que ele é
o líder do bando, mas não lidera o eixo do romance. Daí a idéia de que o
protagonista é o elemento coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma
parte da personalidade, uma faceta desse organismo maior que forma os Capitães
da Areia.
Pedro
Bala: líder dos Capitães da Areia, tem o cabelo loiro e uma
cicatriz de navalha no rosto, fruto da luta em que venceu o antigo comandante
do bando. Seu pai, conhecido como Loiro, era estivador e liderara uma greve no
porto, onde foi assassinado por policiais.
Sem-pernas: deficiente físico, possui uma perna coxa. Preso e humilhado por
policiais bêbados, que o obrigaram a correr em volta de uma mesa na delegacia
até cair extenuado, Sem-Pernas conserva as marcas psicológicas desse episódio,
que provocou nele um ódio irrefreável contra tudo e todos, incluindo os
próprios integrantes do bando.
Gato: é o galã dos Capitães da Areia. Bem-vestido, domina a arte da
jogatina, trapaceando, com seu baralho marcado, todos os que se aventuram numa
partida contra ele. Além dos furtos e do jogo, Gato consegue dinheiro como
cafetão de uma prostituta chamada Dalva.
Professor: intelectual do grupo, deu início às leituras depois de um
assalto em que roubara alguns livros. Além de entreter os garotos, narrando as
aventuras que lê, o Professor ajuda decisivamente Pedro Bala, aconselhando- o
no planejamento dos assaltos.
Pirulito: era o mais cruel do bando, até que, tocado pelos ensinamentos
do padre José Pedro, converte-se à religião. Executa, com os demais, os roubos
necessários à sobrevivência, sem jamais deixar de praticar a oração e sua fé em
Deus.
Boa-vida: o apelido traduz seu caráter indolente e sossegado.
Contenta-se com pequenos furtos, o suficiente para contribuir para o bem-estar
do grupo, e com algumas mulheres que não interessam mais ao Gato.
João
Grande: é respeitado pelo grupo em virtude de sua coragem e da
grande estatura. Ajuda e protege os novatos do bando contra atos tiranos
praticados pelos mais velhos.
Volta Seca: admirador do cangaceiro Lampião, a quem chama de padrinho, sonha um
dia participar de seu bando.
Dora:
seus
pais morreram, vítimas da varíola, quando tinha apenas 13 anos. É encontrada
com seu irmão mais novo, Zé Fuinha, pelo Professor e por João Grande. Ao chegar
ao trapiche abandonado, onde os garotos dormem, Dora quase é violentada, mas,
tendo sido protegida por João Grande, o grupo a aceita, primeiro como a mãe de
que todos careciam, depois como a valente mulher de Pedro Bala.
Padre
José Pedro: padre de origem humilde, só conseguiu entrar
para o seminário por ter sido apadrinhado pelo dono do estabelecimento onde era
operário. Discriminado por não possuir a cultura nem a erudição dos colegas,
demonstra uma crença religiosa sincera. Por isso, assume a missão de levar
conforto espiritual às crianças abandonadas da cidade, das quais os Capitães da
Areia são o grande expoente.
Querido-de-Deus:
grande capoeirista da Bahia, respeita o grupo liderado por Pedro Bala e é
respeitado por ele. Ensina sua arte para alguns deles e exerce grande
influência sobre os garotos.
Sobre
Jorge Amado
Jorge
Amado nasceu em Itabuna (BA), em 10 de agosto de 1912, e passou a infância em
Ilhéus. Aos 19 anos surpreendeu a crítica e o público com o lançamento do
romance "O País do Carnaval". Desenvolveu uma literatura
politicamente engajada e, nos anos seguintes, publicou "Cacau"
(1933), "Suor" (1934), Jubiabá" (1935) e "Capitães da
Areia" (1937).
Fez os estudos universitários no Rio
de Janeiro, formando-se bacharel em ciências jurídicas e sociais. Em 1945 foi
eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo
participado da Assembléia Constituinte de 1946 e da primeira Câmara Federal
após o Estado Novo. Perdeu o mandato em 1948, depois que o PCB foi colocado na
ilegalidade. Deixou o Brasil e viveu cinco anos na Europa e na Ásia.
Suas principais obras são:
"O país do carnaval" (1930), "Suor" (1934), "Mar
Morto" (1936), "Capitães da areia" (1937), "Gabriela, cravo
e canela" (1958), "A morte e a morte de Quincas Berro d’Água"
(1961), "Dona Flor e seus dois maridos" (1966), "Tieta do
agreste" (1977), "Farda, fardão, camisola de dormir" (1979) e
muitas outras.
Análise da Obra
Descaso social e o caráter jornalístico da obra.
O
romance "Capitães da Areia" começa com uma reportagem fictícia
intitulada “Crianças ladronas”. A matéria narra minuciosamente um assalto à
casa de um rico negociante, o comendador José Ferreira. De acordo com o texto,
o crime fora praticado pelos Capitães da Areia, descritos como “o grupo de
meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”.
Depois da reportagem, a introdução
apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são,
respectivamente, do secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de
menores a responsabilidade pelos atos criminosos dos Capitães da Areia) e do
juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir os menores é do chefe de
polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho
estivera preso no reformatório, narra os horrores que eram praticados ali
contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante personagem
e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua
experiência no reformatório. O padre visitava o local para levar conforto
espiritual aos meninos. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do
diretor do reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos
dispensados aos menores na instituição que dirige, o que é uma hipocrisia, como
se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é
eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a
tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo
tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja,
apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De
outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos
interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos
mentirosos.
O
descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os
capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou
da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista
Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O
enredo, sobretudo no início, tem a função de caracterizar os personagens.
Pode-se dizer que busca apresentar os Capitães da Areia, revelando a
personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações.
Dos vários capítulos que compõem o
romance, alguns são particularmente significativos. Em “As Luzes do Carrossel”,
o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente
carrossel. Desde o líder, Pedro Bala, passando pelos seus mais destacados
membros, a grande maioria se diverte de forma pueril no velho brinquedo.
Essa passagem é importante por fazer
o contraponto à opinião vigente na alta sociedade baiana em relação aos
Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recuperação, que
deveriam ser tratados de forma desumana no reformatório, é confrontada com essa
situação. Ao mostrar os garotos divertindo-se no “Grande Carrossel Japonês”, o
narrador mostra a essência dos personagens do livro. Pedro Bala e seus
comandados são apenas crianças socialmente desamparadas.
Ausência da figura materna
Outro capítulo que merece destaque é
“Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o
Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso
se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infiltrava na casa de
famílias ricas, apresentando-se como pobre órfão que pedia um lugar para morar.
Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam
seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a
roubava.
Nesse capítulo, no entanto,
Sem-Pernas é acolhido de forma sincera e amorosa pelos donos da casa, que o
veem como o filho que havia morrido. Sem-Pernas vive então um conflito interno.
Tratado como um verdadeiro filho, o garoto fica dividido entre a lealdade ao
bando que o acolheu e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que
nunca havia conhecido. Opta pela lealdade ao grupo, que invade e saqueia a
casa.
Sem-Pernas é o personagem mais
revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de
receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor,
acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia
de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e
não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa
claro que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma
figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam
o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora,
uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com
intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João
Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a
enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a
vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de
casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua
amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas
costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno
de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca,
Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este
último iria amá-la, no futuro, como esposa.
Terceira e última parte da
obra
Canção
da Bahia, Canção da Liberdade", a terceira parte, vai nos mostrando a desintegração dos
líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia;
Professor parte para o RJ para se tornar um pintor de sucesso, entristecido
coma morte de Dora; Gato se torna uma malandro de verdade, abandonando
eventualmente sua amante Dalva, e passando por ilhéus; Pirulito se torna frade;
Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá
ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro
do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e
condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-de-Deus continua sua vida
de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias
de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os
Capitães da Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo,
mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa
de ser o líder dos Capitães da Areia e se torna um líder revolucionário
comunista.
Este
livro foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se
grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados
como opressores cruéis e responsáveis pelos males(Padre José Pedro é uma
exceção mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário),
Alguns destaques:
● CAPITÃES DA AREIA é um
romance modernista, pertencente à segunda fase do Modernismo no Brasil
(1930-1945);
● Capitães da Areia trata da
problemática do menor abandonado e das suas consequências: a violência, a
criminalidade, a discriminação e a prostituição;
● Percorrer as páginas do
livro é um exercício de cidadania. Mesmo que seja, de forma idealizada, Jorge
Amado criou personagens envolventes, capazes de “abrir” os olhos do
leitor, que se vê envolvido em cada história, que reconhece um ou outro
personagem nas páginas policiais. São heróis? São bandidos? São
vítimas? São menores abandonados! É preferível acreditar que são
vítimas, vítimas da marginalização a que são submetidos. Vítimas de um sistema
que ainda não mudou totalmente, embora exista o Estatuto da Criança e do
adolescente (ECA).
Comentário
"Capitães
da Areia" foi publicado por Jorge Amado em 1937 e narra a história de um
grupo de garotos de rua que se unem para assaltar pessoas e residências em
Salvador. Segundo o professor Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, Jorge
Amado tem uma visão piedosa dessas crianças, destacando que elas cometem os
crimes porque são abandonadas. Não que ele apoie o roubo, mas é simpático aos
garotos e tenta retratar as causas da situação.
Entre as personagens do livro, destaca-se Pedro Bala, líder do grupo de
garotos e "protagonista" da história. Cada um dos garotos citados na
obra terá a rua como educadora, a vida como mestre, a exclusão como metodologia
de formação, e assim vão crescer, e se tornar homens, na prática de atividades
ilícitas e no amadurecimento afetivo, seja ao lado de mulheres ou de outros
rapazes. Pedro Bala, em sua trajetória existencial, passará de jovem marginal a
líder comunista.
Atualmente, a situação das crianças brasileiras
mudou consideravelmente. Além da criação do Conselho Tutelar, o Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA ( de 1990) trouxe outros avanços para o país.
Antes do Estatuto, as crianças e adolescentes que moravam nas ruas eram
simplesmente “objeto de intervenção do Estado”. Ou seja, se pegas pela Polícia,
eram somente levadas para abrigos. Não eram consideradas como sujeitas de
Direitos, como vocês viram nas páginas de Capitães da Areia. Com o ECA, foi
criada a ideia de que esses menores de rua têm direitos, inclusive à felicidade,
ao prazer e a uma vida digna. O ECA regulamentou a situação do menor abandonado
e conferiu ao Estado a administração e supervisão do pátrio poder dessas
crianças.
Podemos
dizer então que o problema focalizado por Jorge Amado não existe mais da forma
como foi apresentado, mas ele está ainda camuflado em nossa sociedade.
VALDECIR DOS SANTOS, professor
especialista em Língua Portuguesa e Literatura diz que "Com advento do
E.C.A. a situação foi amenizada, porém, não resolveu totalmente o problema,
pois, mesmo que este estatuto tenha trazido a milhões de brasileirinhos,
garantias ao direito de ser criança, de ter dignidade, confiança e esperança de
um futuro promissor, mais que isto, é preciso que eles tenham acesso de forma
igualitária, à cultura, ao lazer, ao esporte e outras atividades que contribuam
para a formação do caráter e cidadania, pois, somente desta forma, poderão ser
inseridas na sociedade como verdadeiros cidadãos, isentos da exclusão e
marginalização a que são submetidos diariamente.
É preciso que as leis deste país
deixem de privilegiar aos ricos e se atente aos mais pobres e menos
favorecidos, encarando a situação de nossas crianças como um “problema social”
se conscientizando de que cestas básicas e esmolas devem ser vistas como medida
paliativa e não como programa permanente de governo, até porque, os pais, as
famílias não necessitam de doações e sim de emprego e renda, pois desta forma
tornar-se-ão livres e independentes.
É necessário que as autoridades
revejam os programas sociais implantados para atender às crianças e
adolescentes, que na sua maioria se limitam em fornecer, apenas alimentação,
quando na teoria a realidade é outra, pois os projetos em si são bem redigidos
e bem estruturados, já que um de seus objetivos é a inclusão da família e não somente
a participação do menor.
Portanto, tornar uma criança em
cidadão de bem vai muito mais além do que dar-lhe “comida e bebida”, é
oferecer-lhe oportunidades de ser criança, de ter acesso aos estudos e ao emprego
e renda na forma da lei".
OBS. IMPORTANTE: Procurei selecionar questões importantes sobre a obra, mas isso não é suficiente para que você faça uma boa prova. É indispensável a leitura integral do livro.
(Bernadete)
No início da obra há uma série de reportagens fictícias que explicam a existência de um grupo de menores abandonados e marginalizados que aterrorizam a cidade de Salvador e é conhecido por Capitães da Areia. Após esta introdução, inicia-se a narrativa que gira em torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém, apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de cada integrante do grupo de forma a montar um quebra-cabeça maior.
Uma delas era o Professor, que sabia ler e passava as noites lendo livros à luz de vela. Algumas vezes ele lia as histórias para os outros do grupo ou então criava as suas próprias narrativas a partir do que lera. Outra personagem que compõe o grupo é Gato, conhecido assim por ser tido como um dos mais bonitos ali. Quando entrou no grupo um dos meninos tentou se relacionar com ele, mas Gato não quis. Sendo muito vaidoso, tentava andar arrumado na medida do possível e de acordo com sua realidade de menino de rua. Gato se apaixona por uma prostituta chamada Dalva, que irá ter um romance com o jovem após ser abandonada por seu amante.
Após a morte de Dora o grupo vai sofrendo algumas alterações. Pirulito parte com o Padre José Pedro para trabalhar com ele na igreja, Sem Pernas acaba morrendo em uma fuga da polícia e Gato vai para Ilhéus com Dalva, de quem é cafetão. Já Professor conseguiu entrar em contato com um homem que lhe oferecera ajuda e tornou-se pintor no Rio de Janeiro retratando as crianças baianas. Por fim, Volta Seca conseguiu se tornar um cangaceiro de seu “padrinho” Lampião. Após cometer muitas mortes e crimes, a polícia prende Volta Seca e ele é condenado.
O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente (que sabe tudo o que ocorre). Essa característica narrativa possibilita que seja cumprida uma tarefa facilmente notada pelo leitor: mostrar o outro lado dos Capitães da Areia. O narrador, ao penetrar na mente dos garotos, apresenta não apenas as atitudes que a vida bestializada os obriga a tomar, mas também as aspirações, os pensamentos ingênuos e puros, comuns a qualquer criança. O narrador não se esforça por ser imparcial; participa com seus comentários, muitas vezes sutis, mas sempre favoráveis aos Capitães da Areia.
Personagens
A obra não possui um personagem principal. Para indicar um protagonista, o mais apropriado seria apontar o conjunto do bando, ou seja, os Capitães da Areia como grupo. Isso porque as ações não giram em torno de um ou de outro personagem, mas ao redor de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais importante para o enredo do que o Sem-Pernas ou o Gato. Pode-se dizer que ele é o líder do bando, mas não lidera o eixo do romance. Daí a idéia de que o protagonista é o elemento coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma parte da personalidade, uma faceta desse organismo maior que forma os Capitães da Areia.
Sem-pernas: deficiente físico, possui uma perna coxa. Preso e humilhado por policiais bêbados, que o obrigaram a correr em volta de uma mesa na delegacia até cair extenuado, Sem-Pernas conserva as marcas psicológicas desse episódio, que provocou nele um ódio irrefreável contra tudo e todos, incluindo os próprios integrantes do bando.
Gato: é o galã dos Capitães da Areia. Bem-vestido, domina a arte da jogatina, trapaceando, com seu baralho marcado, todos os que se aventuram numa partida contra ele. Além dos furtos e do jogo, Gato consegue dinheiro como cafetão de uma prostituta chamada Dalva.
Professor: intelectual do grupo, deu início às leituras depois de um assalto em que roubara alguns livros. Além de entreter os garotos, narrando as aventuras que lê, o Professor ajuda decisivamente Pedro Bala, aconselhando- o no planejamento dos assaltos.
Pirulito: era o mais cruel do bando, até que, tocado pelos ensinamentos do padre José Pedro, converte-se à religião. Executa, com os demais, os roubos necessários à sobrevivência, sem jamais deixar de praticar a oração e sua fé em Deus.
Boa-vida: o apelido traduz seu caráter indolente e sossegado. Contenta-se com pequenos furtos, o suficiente para contribuir para o bem-estar do grupo, e com algumas mulheres que não interessam mais ao Gato.
Volta Seca: admirador do cangaceiro Lampião, a quem chama de padrinho, sonha um dia participar de seu bando.
Suas principais obras são: "O país do carnaval" (1930), "Suor" (1934), "Mar Morto" (1936), "Capitães da areia" (1937), "Gabriela, cravo e canela" (1958), "A morte e a morte de Quincas Berro d’Água" (1961), "Dona Flor e seus dois maridos" (1966), "Tieta do agreste" (1977), "Farda, fardão, camisola de dormir" (1979) e muitas outras.
Essa forma de início da obra é eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja, apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos mentirosos.
O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O enredo, sobretudo no início, tem a função de caracterizar os personagens. Pode-se dizer que busca apresentar os Capitães da Areia, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações.
Ausência da figura materna
Sem-Pernas é o personagem mais revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor, acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa claro que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora, uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca, Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este último iria amá-la, no futuro, como esposa.
É preciso que as leis deste país deixem de privilegiar aos ricos e se atente aos mais pobres e menos favorecidos, encarando a situação de nossas crianças como um “problema social” se conscientizando de que cestas básicas e esmolas devem ser vistas como medida paliativa e não como programa permanente de governo, até porque, os pais, as famílias não necessitam de doações e sim de emprego e renda, pois desta forma tornar-se-ão livres e independentes.
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